segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Poesias


Dicas e macetes para Declamar Poesias

DECLAMAÇÃO DE POEMAS
A poesia é uma das mais completas formas de expressão artística.
Ela nos fala de sentimentos, de acontecimentos, de pessoas, de lugares, enfim nos fala de conhecimentos.
A declamação é a verbalização ou interpretação da poesia, ou seja: o declamador dá voz ao autor da poesia.
Ao pretender declamar, uma pessoa tem que tomar alguns cuidados, sem os quais corre o risco de cometer erros, que podem comprometer a qualidade artística de seu trabalho.

ESCOLHA DO POEMA
O primeiro cuidado que o declamador deve ter é com relação à escolha do poema. Se o mesmo estiver na 1ª pessoa do singular ou do plural, deve ser compatível com a situação do declamador: sexo e idade.
COMPREENSÃO
O declamador deve compreender perfeitamente o que está dizendo, isto é conhecer o poema, saber o que significa cada termo do poema, bem como sua correta pronúncia. Também dever entender a pontuação, para poder fazer as pausas adequadamente. É comum ver-se um declamador recitando um poema verso a verso, quebrando o sentido da frase, ou da expressão.
MEMORIZAÇÃO
Memorizar um poema, não é apenas decorar os seus termos. È recomendável que a memorização ocorra simultaneamente com a interpretação. Outro detalhe importante é a memorização gradual, ou seja, memoriza a 1ª estrofe, depois a 2ª, antecedida da 1ª, depois da terceira, antecedida da 1ª e das 2 ª e assim sucessivamente. A tentativa de memorização simultânea de todas pode ocasionar o esquecimento de parte de parte e daí não saber como continua.
POSTURA CÊNICA
Por postura cênica entende-se a gesticulação que deve acompanhar a recitação do poema. Os gestos não devem ser muitos, nem exagerados, devendo ser coerentes.
INTERPRETAÇÃO
É na interpretação que o declamador tem a oportunidade de mostra a sua arte. A interpretação deve ser comedida, porém não pode ser pobre.
IMPOSTAÇÃO DE VOZ
Impostação de voz é do que a interpretação de um poema, sob o aspecto da voz. Deve ser observado com muito cuidado o texto, para não se dramatizar passagens neutras, ou não apresentar de maneira neutra passagem dramáticas.
IDENTIFICAÇÃO DO POEMA
Necessariamente tem de ser indicados o nome de seu autor e o titulo do poema , antes de iniciar a declamação. Porém não os dizer já declamando.
AGRADECIMENTO
Alguns declamadores ao terminar sua interpretação acrescentam agradecimentos ou a expressão!”Tenho dito”. Não cabe. Para indicar que terminou sua recitação o declamador deve usar um pequeno estratagema, que pode ser diminuir o tom da voz, levantá-lo, se couber, fazer um gesto de cabeça ou de mãos.

“A poesia para mim é uma segunda pele...declamar é vida “
Nara Elizene Porto Alves - Declamadora

http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1250846




Ave Maria do Peão

Odilon Ramos

Ao reponte do sol que descamba
no dia se aprochega para o arremate
pelos campos e nos matos da querência
no revoar da bicharada voltando ao ninho
é hora de recolhimento

No rancho que há no interior
de mim mesmo
eu, gaúcho de fé
me arrincono e medito

Despindo o poncho da vaidade
e do orgulho
tiro o chapéu, apago o pito
e me achego pra uma prosa
com o patrão maior

Na sua presença
meu sangue quente de farrapo
se faz manso caudal
entrego-lhe minha alma
afoita de alcançar lonjuras
e abrir cancha
em busca do destino
renuncio à minha xucra rebeldia
me faço doce de volta
e macio de tranco
para dizer-lhe

Gracias patrão
por tudo que me deste
por esta querência Senhor
que meus ancestrais regaram
com seu sangue
e que aprendi a amar desde piá

Pelos meus parceiros
nessa ronda da vida
sempre de prontidão para
me amadrinharem na
campereada mais custosa
ou para matearem comigo
na hora do sossego

Reparte com eles, patrão
esta fé que me deste
e este orgulho pela minha
querência

Ajuda patrão
a manter acessa esta chama
concede sempre ao gaúcho
a força no braço
e o tino pra saber o que
é correto

Dá-nos consciência
para preservar a nossa cultura
livre da invasão dos modismos
conserva a essência e a beleza
da nossa tradição

E agora, com licença patrão
que vou aproveitar a olada
para um dedo de prosa com
Nossa Senhora

Ave Maria
primeira prenda do céu
contigho está o Senhor,
na estância maior
tu és bendita entre todas
as prendas
e bendito é o piá que
trouxeste ao mundo, Jesus

Maria, mãe de Deus
E mãe de todos nós
roga pela querência
e pelos gaudérios
que aqui moram
nesta hora e no instante
da última cavalgada

Amém



Mulher Gaúcha

Antonio Augusto Fagundes
gentileza de Paulo Roberto Vargas

Os velhos clarins de guerra
desempoeirando as gargantas
quero-querearam no pago.
E o patrão coronelado,
reuniu em torno parentes,
posteiros, peões e agregados.
Chegara um próprio do povo
trazendo urgente recado
que se ia pelear de novo
e o coronel, satisfeito,
dizia, fazendo graça:
"vamos ver, moçada guapa,
quem honra a estirpe farrapa
e atropela numa carga
por um trago de cachaça...Os velhos clarins de guerra
desempoeirando as gargantas


Um filho saiu tenente,
o mais velho - capitão,
um tio ficou de major.
(o pobre que passa o pior,
a oficial não chega, não:
o capataz foi sargento,
um sota ficou de cabo
e a peonada, e os posteiros,
ficaram soldados rasos
pra pelear de pé no chão...)

Carneou-se um munício farto
- vindo de estâncias vizinhas -
houve rações de farinha,
queijo, salame e bolacha,
se santinguando em cachaça
a sede dos borrachões.

E a não ser saudade e mágoa
nada ficou pra trás
a garganta dos peçuelos
misturava pesadelos
sanguessugando, voraz,
cartuchos e caramelos,
o talabarte e o pala,
bolacha e pente de bala,
fumo e chumbo - guerra e paz...
No humilde rancho de um posto,
um moço encilhou cavalo
beijou a prenda e se foi.
Na madrugada campeira
luzia a estrela boieira
sinuelando o arrebol
e as barras de um dia novo
glorificavam o horizonte
lavando a noite defronte
com tintas de sangue e sol.

E durante largo tempo
ficou a moça na porta
olhando a estrada, a chorar,
sem saber porque o marido
tem que partir e lutar,
não entendia de guerra!
Pobre só votam em quem mandam
e desconhece outra coisa
que não seja trabalhar.

Então a moça franzina
tomou uma decisão!
Esqueceu delicadezas,
ternuras de quase -noiva
e atou os cabelos negros
debaixo de um chapelão
e se atirou no trabalho,
cuidando da casa e campo,
do gado e da plantação.

Emagreceu e tostou-se
e enrijeceu como o aço!
Temperando-se na luta
madurou-se como a fruta
que é torcida no baraço.

Montou e recorreu campo,
botou vaca, tirou leite
e arrastou água da sanga.
Fez do tempo a sua canga
no lento girar do dia
e quando as vezes parava
comovida, acariciava
o ventre, que pouco a pouco
se arredondava e crescia.

Só a noite, quando cansada
fechava o rancho e dormia
seu homem lhe aparecia:
ora voltava da guerra,
ora peleava - e morria!...
Que triste o rancho vazio
nas longas noites de frio
ou nas tardes de garoa!
Que medo de ir a estância!
(e ao mesmo tempo, que ânsia
de saber notícia boa!)
Vizinha perdera o filho.
pra outra, fora o marido.
E um dos que tinham, morrido,
um moço, que era tropeiro,
quando feito prisioneiro
tinha sido degolado
sem nenhuma compaixão.
E até um filho do patrão
se ensartara numa lança
em meio a uma contradança
de berro, tiro e facão.

E o fulano? Que fulano?
Aquele, que era posteiro!
Moço guapo! No entrevero
é como um raio a cavalo.

Trezontonte levou um pealo
mas é sujeito de potra:
já está pronto pra outra,
sempre disposto e faceiro.

E a moça voltava ao rancho,
tão moça ainda, e tão só!
E quando fitava a estrada,
só via o vazio do nada,
o nada o silêncio e o pó.

Não sabe quem vem primeiro,
se vem o pai, ou o filho.
E os seus olhos, novo brilho
roubaram de dois luzeiros.

Cada noite, cada aurora,
vai encontrá-la a pensar:
quando o marido voltar,
de novo estará bonita
- novo vestido de chita
e novo brilho no olhar.
E quando o filho chegar,
quantas cargas de carinho
carretearão os seus dedos!
Quantos e quantos segredos
sussurrarão, bem baixinho!
E para ele, os passarinho
cantarão nos arvoredos...

Qual deles chega primeiro?

E se um deles não chegar...?

Mas a guerra segue além,
o filho ainda não vem
e ela a esperar e a esperar!...

Bendita mulher gaúcha
que sabe amar e querer!
Esposa e mãe, noiva e amante
que espera o guasca distante
e acaba por compreender
que a vida é um poço de mágoa
onde cada pingo d'água
só faz sofrer e sofrer.





A Morte do Brigadiano

Autoria: Dimas Costa

Houve o tempo em que a "folha"
era a arma respeitada,
pois assim era chamada
a espada do brigadiano.
E nas pendengas do pago,
quando a indiada se atracava,
muitas vezes ele cantava
no lombo de algum paisano.

E ele era desse tempo,
cabo velho e veterano.
Curtiu muito desengano
como praça da "Milícia'.
Mas teve um dom já de berço:
mostrando desde menino,
que Deus lhe dera um destino,
nasceu para ser polícia!

Pequenito já brincava
nas guardas da molecada;
fez uma farda inventada
com uns trapos velhos de brim.
Duma tala de coqueiro
fez sua primeira espada
e organizou com a gurizada
uma brigada mirim.

Quando fez 18 anos foi cumprir a sua sina:
entrou pra "Guarda Assassina",
como era, então, chamada.
E que orgulho sentiu
quando alcançou o que sonhara,
no dia que lhe entregaram
uma farda desbotada!

E seguiu a vida afora
marcheteado com a sorte.
Cruzou ferro com a morte
em muita pegada feia.
Empunha a lei com bravura,
brincando até com o perigo, e
levou muito inimigo
para o fundo da cadeia!

Mas era bom e honesto,
embora pobre e judiado!
Vivia sempre apertado
com o magro soldo de então.
Sonhava, às vezes sorrindo,
apenas por puro afeto,
pois jamais, analfabeto,
chegaria a Capitão.

E como foi massacrado
nos tempos do preconceito!
Ser brigada era defeito
que pesava como um mal!
Pois todo o índio polícia
era, sim, considerado,
como indivíduo afastado
do meio ambiente social.

E um dia juntou os trapos
com uma moça brasileira.
Gaúcha bem verdadeira,
mulher pobre, honesta e boa!
Que sofreu resignada
daquele tempo a malícia,
quando a mulher de polícia
era chamada de à toa"

Mas enfrentaram o destino
unidos num amor profundo!
E peleando com o mundo,
foram passando os anos.
Eram bons, eram benquistos,
entre vizinhos e amigos,
e tinham poucos inimigos,
apesar de brigadianos.

Já estavam quase aos quarenta
quando Deus lhes deu um filho.
Trazendo um novo brilho
para o lar entristecido.
Mas o velho brigadiano
era um exemplo de bom;
pois Deus lhe dera o dom:
ser bom pai e bom marido!

Foi num dia em que o filho
estava cumprindo anos.
Os pais, garbosos, ufanos,
estavam com a alma em festa!
Juntaram uns restos de trocos
do soldo que mal cabia,
para fazer, nesse dia,
uma festinha, modesta...

E quando a mãe fez o bolo,
com uma velinha, enfeitado,
o gurizito, encantado,
dava pulos na cozinha.
É o bolo de aniversário,
dizia a mãe, com carinho,
e os olhos do gurizinho
brilhavam mais que a velinha!

E o cabo velho, sorrindo,
se tocou lá para a venda,
fora buscar a encomenda:
meia dúzia de Gasosa.
E recebendo um abraço,
o brigadiano, faceiro,
com o amigo, o bolicheiro,
ficou tirando uma prosa...

Foi quando entrou no boliche
o mulato "Carniceiro";
um tipo mui bochincheiro,
que já vinha embriagado.
Não gostava de polícia
e ao ver ali o brigadiano,
foi logo puxando pano
pra uma encrenca com o soldado...

Pegou no copo de canha e
disse: bebe milico!
E o Cabo velho, xomico,
que não queria pendenga,
foi saindo de mansinho,
se lembrando do menino,
mas o mulato, assassino,
foi sacando da xerenga ...

Foi tudo tão de repente,
que nem se explica o sentido;
o bandido, enfurecido,
como um louco, o desalmado,
sem que mesmo o bolicheiro
pudesse evitar o mal,
espetou o policial
que caiu ensanguentado!

E à noite, naquele rancho
onde haveria alegria,
uma mãe, triste, se ouvia
chorando, desesperada!
Era a sorte negra e injusta
que quase sempre culmina
a triste e amarga sina
duma mulher de brigada!

E o filho, ainda bobo,
sem compreender a razão,
ao ver o pai, no caixão,
terminando o seu calvário,
batendo palmas, dizia,
- inocente, o pequenito -
"Como papai tá bonito,
festejando o aniversário!"





O Cavalo Crioulo e o Soneto


Vasco Mello Leiria
Pseud.: Capitão Caraguatá

Lombo liso, o pescoço bem plantado
o peito largo, a garupa forte e rica,
bons aprumos e bem proporcionado
o meu pingo crioulo pontifica,

desde a lenda, com arte, emoldurado...
O soneto é seu par, e notifica,
entre os quatorze versos, enquadrado,
o fundo, a forma, com que justifica,

a sua "unidade e harmonia"...
Pingos buenos, que, em rima, vão troteando,
com impulsão da raça, e... de estesia,

e, baralhando o freio, tempo a fora,
soberbos como china... se amansando,
com muito jeito, com estro e com espora.


Romance de Campo e Mar

Autoria: Moises Silveira de Menezes

Quem embarca em barco alheio
embarca anseios e medos,
abarca sonhos nos braço
s
que lançam redes ao mar
buscando nesta labuta
garantir o pão na mesa,
onde a luz da lamparina
ilumina rostos tristes,
todos crentes na esperança
de um dia ter vida boa
e talvez saber que o fim
é o sem fim azul do mar

Para quem mira de longe
parece um frágil caíque
o barco que abarca um mundo
que embarcou no continente.
Sarandeia sobre as ondas,
por ora em suaves meneios,
por outra quase soçobra
em tremendo corcoveio,
mas no leme, rédea firme
Juvencio com tino e rumo
na sobre vida dos tombos

Campeiro vindo de estância
do mar verde da campanha,
uma espécie de marujo
não vê muita diferença
entre o lombo dos ventanas
e esses barcos araganos
que buscam na faina diária,
além de ricos cardumes,
respostas prás inquietudes
e talvez chegar ao fim
do sem fim azul do mar

Juvencio é um desses tauras
que vieram do mar da pampa
tentar a sorte embarcado
nesses barquitos pesqueiros.
Quem outrora marcou, curou,
quebrou corincho de potros
hoje garimpa garoupas,
bagres, tainhas gavionas...
se equilibra sobre as ondas
quem antes se enforquilhava
num maula que levitava
por sobre as ondas do pasto

Quem domou xucro em Santana
e gineteou nas "criollas",
tenteou traíra em Rio Negro,
fez presença em Vacaria,
não respeita o mar por grande
mas teme o desconhecido.
Juvencio se aferra ao leme
E lembranças passageiras
dos mistérios do Jarau,
de tirotear com gerdames,
compõe um mundo pequeno
antes o reino de Netuno.

Nas ondas crespas do mar
o barco navega suave
buscando vida e sustento.
Há uma quietude que inquieta
quem se aventura na lida
no imenso reino marinho,
onde o peixe é garantia
de quem precisa sonhar,
prá alimentar outros sonhos
e amenizar esta angústia
de nunca chegar o fim
o sem fim azul do mar.

No lombo de um baio ruano
que ondeava por sobre pastos
numa "criolla" a lo largo,
entendeu assim de pronto
que o sem fim verde do campo
terminava no alambrado,
mas no leme de um pesqueiro
num reino sem aramados
a liberdade é completa
e o fim do seim fim do mar
é o começo "por supuesto"
do seim fim azul do céu
.

Querências Amigas


Paulo de Freitas Mendonça e Jose Curbelo

Em Rivera e Livramento
Pajadores lado a lado
Teu país e meu estado
Se unem no sentimento
Por saber que és atento
às coisas da natureza
Me responda com clareza
Do fundo do coração
O que viste em meu rincão
Que te mostrou mais beleza?

Su Querencia és tan hermosa
Un derroche de beleza
Aquí la naturaleza
Fué pródiga y generosa
las misiones és gloriosa
história curcificada
Su memória ensagrentada
le muestra el tiempo inmutable
como señal imborrable
A su tierra colorada.

Pago de bons pajadores
Tua querência é sensata
Da costa do Rio da Prata
Aos campos verdes e flores
Seus prédios e suas cores
Encantam por todos lados
Rio dos passáros pintados
Campital Montevidéo
É linda, parece um céu
De monumentos plantados.

Mencionando monumentos
Es justo que uno le integre
Símbolo de Porto Alegre
Y de criollos sentimientos
Del bronce eterno los tientos
El tiempo fué trenzador
Caringi el gran escultor
Y el modelo Paixão Côrtes
Darán honra a los aportes
Que hizo el gaucho El Lazador.

El gaucho ou entrevero
La carreta e outros mais
Recuerdos de ancestrais
Bons heróicos pioneiros
Restando a nós, troveiros
Saudá-los neste momento
Já que a paz sopra bom vento
Pro gaúcho ser folclórico
Lembro monumento histórico
Colônia do Sacramento.

Monumento natural
El bosque petrificado
En el centro del estado
De siglos guarda un caudal
Y para um trago cordial
A la vera del camino
Halla todo peregrino
Que pase por esta tierra
Amistad gaucha en la sierra
De la uva e del buen vino.

Com vinho quero brindar
às duas terras amigas
Heroicos Bento y Artigas
Respaldan nuestro cantar
Respiramos mesmo ar
Somos todos vencedores
Y con los mismos fervores
Eternamente encendidos
Que os povos sejam unidos
Como são os pajadores



Negrinho do Pastoreio

Chico Ribeiro
gentileza de Filipe Augusto Mello Mattos

A mão da noite fechara
a porta grande do dia,
era noite e dentro dela
a tempestade rugia...

O vento! Como ventava!
A chuva! Como chovia!
O trovão de boca aberta!
O raio, de quando em quando,
Soltando-se do trovão,
corria dentro da noite,
cortando em riscos de fogo
o seio da escuridão!

Ia fundo a tempestade:
O vento ventando mais,
a chuva chovendo mais.
E o Negrinho, como a ronda,
dentro da noite perdido!...

A tempestade crescendo,
cada vez roncando mais!...

E o Negrinho acocorado
entre as macegas, ouvindo,
ouvindo, vendo e sentindo,
o bate-bate da chuva,
o martelar do trovão.
E o raio...com que violência
cortava o raio a amplidão!...

E o Negrinho ouvindo tudo!
Tudo lhe vem aos ouvidos,
enche-lhe a vista, os sentidos,
menos o passo da ronda,
que lhe confiara o -Sinhô-,
a ronda que a tempestade
de vento e chuva espalhou...

A tempestade crescendo,
cada vez roncando mais!...

Depois, depois ... oh! Senhor!
Depois que tudo acabou,
que a chuva não mais choveu,
que o vento não mais ventou
e o raio se terminou
porque o trovão se calou.

E o Negrinho também!
A não ser pelos milagres,
pelo bem que ele nos presta
quando se perde um tareco,
ninguém mais dentro do mundo
no vão dos dias, das noites,
acompanhado ou sozinho,
conseguiu botar os olhos,
PODE ENCONTRAR O NEGRINHO!


Bandeira Gaúcha

Jurema chaves

Meu nome é...

Sou uma prenda mirim,

Gosto de viver, assim,

Cultuando a tradição;

As glórias do meu rincão,

Que tem belezas sem fim.

E digo, nestes meus versos,

O que tu és para mim.

Rio Grande, com muito orgulho,

Sou tua representante,

Não esqueço, um só instante,

Tudo que devo a esse chão;

Aqui, no meu coração,

Brilhas mais que um diamante;

Meu coração de criança

Te ama, como um gigante.

Aqui, nesse altar pampeano,

Aprendi esta oração,

Pedindo pra o meu rincão

Paz, amor, fraternidade;

Ao Parão, lá do infinito,

Que sempre reine a bondade,

Que no meu pago gaúcho

Brilhe, sempre, a liberdade!

Ao nascer trouxe comigo

O amor pelo meu pago,

Aqui no meu peito trago

As tradições da querência;

Amando, com eloqüência,

Rio Grande do mate amargo,

Onde mora o minuano,

Que vem me fazer afagos.

Esse ventinho maleva,

Que desmancha meu cabelo,

Preso com tanto desvelo,

Num lindo tope de fita;

Eu sou prendinha bonita,

Nas festas sou sinuelo;

Pela paz do meu Rio Grande

A Jesus faço um apelo.

Me ajoelho, Patrão Santo,

Agradecendo esse amor,

Na inspiração do cantor

Que te canta, em prosa e verso;

Pelo encanto do universo,

Pelo perfume da flor,

Pela bandeira gaúcha,

Que defendo com ardor !




Mulher Pampiana

Odilon Ramos

E aqui estou eu meu gaudério
em tempos de guerra e paz
sou aquela que te espera
sem saber se tu virás

Nestes serões solitários
entre agulhas de costura
e velhos livros que li
fui alinhando as idéias
alinhavando verdades
até que um dia entendi

Sou a história repetida
eu já vivi outras vidas
eu já fui outras mulheres
antes de ser a que sou

Acho que até fui Maria
Maria de Nazaré
De a cavalo, num burrinho,
com Jesusinho no colo
a seguir o bom José

Quanta vez de tardezita
cevei o mate solita
e mateei bombeando
a estrada

Qualquer nuvem de poeira
qualquer sinal de galope
já me acendia a esperança
mas que esperança, que nada

Na minha ingenuidade
era tudo o que eu queria
um rancho pra ser meu rancho
um peão pra ser meu peão
filhos pra chamar meus filhos
um terreiro com galinha,
vassoura, fonte e fogão

Fui das páginas da história
aos sonhos do faz de conta
na guerra, fui cabo toco
uma mulher que peleou

Fui Anita e Ana Terra
fui a parda margarida
que pra casar com Inácio
fez pedido a Santo Antônio
prometendo uma capela
e uma cidade gerou

Fui mãe de heróis e teatinos
desposei peões e caudilhos
e nem esposos, nem filhos
reconheceram a seu tempo
minha fibra, meu valor

Quem percorrer a querência
pelos caminhos da história
decerto me encontrará

Varrendo um velho terreiro
ou assando pães no forno
lavando roupas na sanga
costurando uma bombacha
ou tecendo um bichará

Acalentei no meu colo
e amamentei no meu seio
o meu Rio Grande piá

Sem queixas e sem lamentos
fiz das esperas motivo
para continuar vivendo
e deixando a vida passar

Por que no fundo eu sabia
que quando daqui me fosse
uma filha ou uma neta
viveria em meu lugar

E por justiça se diga
que nem tudo nessa vida
de simples mulher pampiana
tenha sido só tristezas,
trabalhos e desencantos

Eu já dançei a tirana
já bailei nas amadas
Já fui prenda cortejada
nos fandangos de galpão

Também já fui disputada
em desafios de chula e
peleia de facão

Eu, eu já vivi tantas vidas
Eu já fui tantas mulheres
e outras que por certo serei

Por que aquela guriazita que
vês brincando de boneca
sem ver o tempo passar
já sou eu, antecipando um
tempo que vai chegar

Muda o tempo, muda a gente,
sou mulher independente,
forte, livre e emancipada
mas no fundo sou a mesma

Ainda frágil, ainda fêmea
Ainda à espera que me tragas
segurança, afeto, achego
e me estendas um pelego
e convide para sestear

E aqui estou eu meu gaudério
em tempos de guerra e paz
sou aquela que te espera
sem saber se tu virás

APARIÇÃO
Dimas Costa

Eu vi, sim, Nossa Senhora
descer, descer, inda agora,
das pontas daquele cerro...
Foi milagre!!! Foi milagre!!!
Pois naquele instante se ouvia
uns toques de Ave Maria
nos badalos de um cincerro.

Meu Deus! Meu Deus, que ventura!
A virgem era tão pura,
tão bonita, tão bonita!
E não vinha, não, com luxo,
com retoço assim de nobre,
vinha simples, vinha pobre,
toda vestida de chita!

Parecia a chinoquinha,
com perdão do bom Jesus!
Na fronte trazia a cruz
das estrelas do Cruzeiro.
Desceu, de manso, na várzea,
cercada de pirilampos
e atravessando esses campos
foi sumir-se no potreiro...

Milagre! Milagre, eu vi!
Ninguém quis acreditar!
É só porque eu vim contar
do jeito mesmo que a vi:
se eu mentisse, se eu dissesse,
que ela estava entre tesouros,
coberta de ricos louros,
não diriam que eu menti!

Acham graça, quando eu falo,
zombam de mim, eu bem sei!
A ninguém mais por direi,
que enxerguei Nossa Senhora...
Naquela várzea bonita
toda vestida de chita
descer, descer inda agora.

Eu vi, sim tenho certeza
e que alegria me deu!
pois a mãe de Deus, como eu
é simples e não tem luxo
e lhes digo com franqueza,
sem vaidade ou heresia
decerto, como Maria
Jesus também é gaúcho!



BRUXINHA DE PANO
Dimas Costa

Nana filhinha
Dorme meu bem
Mamãe ta solita
E o bicho aí vem

Minha bruxinha de pano,
Foi feita pela vovó,
Formada de um pano só,
Mas tem boca e tem nariz.

Quando eu a nano nos braços,
Eu me sinto uma mãezinha,
É tão linda minha bruxinha,
Que eu me sinto feliz.

Sapo cururu, na
Beira do rio,
Nana essa bruxinha,
Que ela ta com frio.

Quem disse que uma bruxinha
Não tem alma, Ela tem.



GAÚCHO LARGADO
Dimas Costa

Olhem só para o meu jeito
e o meu lenço sobre o peito.

O meu chapéu sobre a nuca
com jeito de desaforo.
Provoca até as morenas
para iniciar um namoro.

E quem me vê deste jeito
há de dizer lá de lado:
Oigatê guri metido,
que gaúcho debochado.

E se monto num cavalo
sendo potro redomão,
não caio...e se cair,
não passo nunca do chão!


A GAUCHINHA
Dimas Costa


Vejam só esta gaúcha
Se não é um monumento.
Não riam se sou pequena,
Tamanho não é documento.

Porque eu serei rio-grandense,
Sempre onde quer que ande.
Pois até sou mais gaúcha
Do que muita gente grande.